CRAVI debate assistência às vítimas ao ataque em escola de Suzano
O Centro de Referência e Apoio à Vítima (CRAVI), programa da Secretaria da Justiça e Cidadania, debateu, nesta segunda-feira (29), as intervenções em emergências, com ênfase na assistência às vítimas da Escola Estadual Professor Raul Brasil em Suzano, onde um ataque terminou com 10 mortos, em março. O encontro aconteceu no Fórum Criminal da Barra Funda e encerrou o seminário – dividido em três módulos – que marcou os 21 anos de funcionamento do CRAVI.
A abertura do evento contou com a participação do advogado Belisário dos Santos Junior, titular da Secretaria da Justiça em 1998, ano em que o CRAVI foi criado. Ele destacou o esforço do então governador Mário Covas na concretização da iniciativa. “O governador nos disse: vamos dar atenção a quem nunca teve atenção, as vítimas”, contou.
Segundo Belizário, o Centro foi concebido pela necessidade básica de igualdade e informação, constituindo-se, ao longo do tempo, em referência para garantir às vítimas atendimento jurídico, psicológico e social, mediante atuação multidisciplinar que envolve várias secretarias de Estado, Procuradoria-Geral do Estado, universidades e terceiro setor. “O CRAVI é a solidariedade do vizinho, mas que vem do Estado; é o poder público atuando para reconduzir a vítima à rotina anterior provocada pelo ato violento, restaurando-lhe a dignidade”, acrescentou. “O CRAVI é uma política pública, não um serviço público”.
Na sequência, o psicólogo do CRAVI Bruno Fedri descreveu o trabalho realizado pelo programa na Escola Raul Brasil, em Suzano, desde o dia da tragédia (13/03) até o dia 25 de julho.
Nesses três meses, foram realizados 572 atendimentos individuais, em grupos, em rodas de conversas, e domiciliares para aquelas pessoas que não conseguiram à escola. “A escuta sem julgamento foi essencial para os adolescentes se sentirem seguros e falar do ocorrido. Alguns eram amigos dos autores dos disparos e sofreram preconceito”, disse Bruno. “Com o ambiente acolhedor, os meninos falaram também de outras situações vivenciadas na escola e em casa, entre elas, alcoolismo, automutilação e bullying”.
Como proposta de intervenção, O CRAVI também criou um grupo com pais de alunos para discutir temas relacionados a acesso a direitos, cidadania, e melhorias no ambiente escolar.
Para o psicólogo, um dos maiores desafios enfrentados na assistência à comunidade escolar foi trabalhar o temor de um novo ataque e a culpa sentida pelos sobreviventes diante da impossibilidade de salvar a vida de um colega.
Segundo Fedri, a tendência das vítimas é lembrar da brutalidade do ocorrido, o que dificulta a elaboração do luto. “As pessoas não são aquilo que sofreram. Todas têm uma história de vida. Ressaltar as experiências positivas de cada vítima pode ajudar a diminuir os traumas deixados pela violência”, afirmou o psicólogo.
Nesse terceiro módulo do seminário, a equipe do Centro de Atendimento Multidisciplinar da Defensoria Pública de São Paulo relatou os desdobramentos das assistências jurídica, psicológica e social prestadas aos alunos, professores e funcionários da Escola Raul Brasil.
A psicóloga Cristina Nagai afirmou que o ocorrido em Suzano ressoou em diversas cidades, inclusive outros estados do Brasil, levando pais e alunos a se sentirem preocupados com a possibilidade de que o mesmo ocorresse em seus territórios.
Já a assistente social Patrícia ressaltou a importância da criação e manutenção de políticas públicas permanentes para o enfrentamento da violência nas escolas, com a participação efetiva da sociedade civil e do poder público.
Para finalizar, a assistente social Lara Hordones lembrou das demandas de segurança feitas pelos pais dos alunos da escola. Os pedidos também serviram de base para compreender os cuidados com a escola e com a comunidade.
O seminário alusivo aos 21 anos do Programa foram divididos em três módulos. O primeiro aconteceu no dia 16 de julho e discutiu “O Acesso à Justiça da Vítima de Violência. A Atuação do Ministério Público e da Defensoria Pública no Atendimento às Vítimas. A Importância da Atuação do CRAVI no Suporte às Vítimas em Audiências. O segundo ocorreu no dia 22 de julho e teve como tema “Abordagens Jurídico-Psicossociais da Violência: os cuidados com as mulheres vítimas de crimes em contextos grupais”.
O CRAVI
O CRAVI oferece atendimento público e gratuito a vítimas e familiares de crimes violentos. Desde o início das atividades, em 1988, já realizou mais de 39 mil atendimentos nas especialidades psicossocial e jurídica. De janeiro à junho de 2019 foram contabilizados 1.437 triagens, acolhimentos e atendimentos. O número é considerado um recorde para o período.
O Programa também realiza oficinas mensais com o objetivo de divulgar seus serviços e proporcionar um espaço de sensibilização sobre temas relativos aos direitos humanos. As atividades são direcionadas aos profissionais, servidores, estagiários e estudantes das áreas de saúde, assistência social, direito, psicologia e educação, e que atuam no atendimento direto à população.
Neste ano, foram capacitados 673 profissionais. Entre os temas abordados estiveram: automutilação, importunação sexual e violência contra a mulher, dependência química e tratamento e enfrentamento do abuso sexual de crianças e adolescentes.
Violência Doméstica
Desde 2016, o CRAVI realiza, por meio de parceria firmada entre a Secretaria da Justiça e Cidadania e o Tribunal de Justiça, atendimento e orientação, por telefone, de vítimas de violência doméstica cujos autores estiveram presentes em audiências de custódia realizadas no Fórum Criminal da Barra Funda.
No primeiro semestre deste ano foram realizados 490 atendimentos.
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